13/11/2011

Carry Me Home - Apostolic Church of God

Nunca precisei frequentar missas. Quando dormia na casa de algum amigo da escola, desavisada, acordava no domingo achando tudo aquilo muito estranho - pessoal arrumado, café passado, e meus amigos com cara de enterro, mesmo sendo domingo. Eu acompanhava, mesmo com roupa do dia anterior, toda suja de tinta e barro. Lembro de olhar pra cima e sempre ver a cara das senhoras sorrindo amarelo pra mim, perguntando para os outros "filha de quem?", era a menina engraçadinha que acompanhava.
Chegava em casa, meu pai de pijama vendo fórmula 1 e tomando seu clássico nescafé.

04/09/2011

Sarjeta Clandestina

Era pra ser só um quarto vazio (de uma antiga nova morada no Alto da rua XV).
Acontece que esse quarto ainda vazio, pulsante de possibilidade e porvires, deixou um outro quarto vazio.

Vazio desesperançoso.

Sobrou só o carpet - com um cheiro terrível devido ao novo cachorro desobediente.
O cheiro azedo é varrido, em alguns finais de semana, por uma agradável e, ainda assim, agoniante brisa do mar que entra pela janela sem pedir licença.

Na real, brisa é uma palavra muito bonita. Acho que o certo seria Maresia. Aquela mesma que destrói a sua bicicleta na praia. Engraçado que mesmo você ficando chateado quando chega pra temporada e descobre, aquela bicicleta enferrujada rende os melhores momentos da sua vida.

O quarto que está sendo deixado fica um pouco mais interessante quando cai uma vergonhosa lágrima no chão.

E você se pergunta o porquê.
Por que merda eu tô chorando?
O quarto tá vazio e você sabe que já tentou de tudo pra mantê-lo cheio.
Fracasso? Saudade? Medo?

A maresia entra pela janela e faz as cortinas reaparecerem.
A brisa bate na cara e você percebe que acabou de pisar num colar de pedras que saiu misteriosamente de uma das caixas empilhadas no canto.
Tropeça, cai, chora.
Inútil.


O quarto da nova velha casa no alto da XV tem muito futuro.
E você pensa: E daí?






13/07/2011

sinônimos

1. limpar o chão com os pés sujos

2. a esperança de um sonderkommando

28/02/2011

quero licença poética
pra escrever sobre a exatidão das horas
quero predicados suficientes
pra usar tua escova de dentes e depois jogar fora


falta verbo pra tanto sujeito e sobra pra pouca vida

21/01/2011


as gotas de chuva que unem-se de repente no vidro e correm como uma, numa linha incerta controlada pela direção e intensidade do vento - que depende em muito da velocidade em que eu decido dirigir e, quase sempre, o caos nas ruas não permite.
E quem é que entende a simplicidade do formato de uma unha?